10/10/2025

SAF do Fluminense ou fundo do São Paulo? Entenda diferenças entre modelos das propostas tricolores

Por Rodrigo Capelo
Fonte: O Estadão
Fluminense e São Paulo têm um objetivo em comum. Ambos tentam aprovar
com seus associados e conselheiros medidas para reduzir a ingerência do
amadorismo no futebol. Os cariocas, com a criação de SAF para administrar
todo o futebol. Os paulistas, com uma empresa só para a administração da base.
Bom momento para refletir sobre essa diferença.
No caso do Fluminense, a proposta é semelhante da que outros clubes
aceitaram — Botafogo, Cruzeiro, Bahia, Vasco etc. Talvez o paralelo mais
próximo seja o do Atlético-MG, que vendeu participação majoritária de sua
SAF para um grupo de torcedores.
Em Minas Gerais, os maiores acionistas são o bilionário Rubens Menin e o
filho, Rafael, à frente de outros atleticanos endinheirados. No Rio de Janeiro, o
BTG do tricolor André Esteves intermedeia a união de outros torcedores tão
ou menos ricos quanto ele.
A futura SAF do Fluminense vai se responsabilizar pelo pagamento da dívida
da associação, estimada em R$ 871 milhões, e os investidores terão de aportar
R$ 500 milhões em dinheiro novo. Em troca, eles assumem 66% ou mais do
capital e se tornam os tomadores de decisão. A associação senta à mesa, mas
não apita.
Por que as negociações desses clubes se parecem? Pois, fora as diferenças entre
grupos e termos contratuais, em todas elas o ativo vai para a mão de um novo
proprietário. Dizem no mercado que nenhum investidor se disporá a comprar
um clube no Brasil, se ele não tiver maioria do capital e, por consequência, a
decisão.
É aí que o São Paulo se distingue, ao propor progressão faseada até a
“privatização”. Primeiro, a sua diretoria montou um FIDC para captar R$ 240
milhões, com a contrapartida de amarrar gastos e prejuízos do departamento de
futebol. Segundo, ela propõe vender 30% da empresa que vai gerir a base para
terceiros em troca de R$ 250 milhões. Terceiro, promete-se uma SAF para o
futebol profissional.
Se tiver sucesso, o São Paulo vai ser o primeiro a captar investimento, atrair
novos sócios e montar nova governança, sem abrir mão das decisões sobre o
futebol. Bom ou ruim? Depende. Como o torcedor são-paulino hoje considera
hoje Julio Casares, presidente, o pior ser humano já nascido, pode ser que
prefira a venda do futebol até para o diabo. Só para se livrar da diretoria, dos
conselheiros, da política.
Conceitualmente, no entanto, não deixa de ser uma estratégia interessante e não
testada. A entrada de sócios no futebol, ainda que minoritários, reduz a margem
para o amadorismo. Cá da minha parte, é pela profissionalização que eu torço.